26.12.09

Quantos bibelôs você ganhou?




Não deixa de ser curioso que nós aqui, abaixo do Equador, copiemos as práticas adotadas à volta do Trópico de Capricórnio, no solstício de inverno de lá.

Entendo a repetição de tais práticas como manifestação de solidariedade aos que habitam regiões geladas.

Há quem coloque à mesa as iguarias energizantes e resistentes às baixas temperaturas, como as nozes e castanhas, e asse carnes gordurosas, pródigas em calorias. Caramba! Isso é que é solidariedade! Nós aqui, escaldados de Sol, comendo o que eles precisam ingerir para enfrentar as nevascas! Eu acho isso lindo! E tocante!

Não quero falar, de novo, no banho de sangue de animais associados aos pios rituais, coisa que me comove de fato. Vamos adiante!

Tenho meus favoritos da estação - a renovação dos laços de afeto, de carinho, de consideração, de gratidão, de amizade; a reunião dos amigos e familiares mais próximos; o telefonema de um amigo de longe e até mesmo o presente finamente escolhido, que retrata o sensível cuidado daquele que o oferece para com aquele que o recebe.

E há o que menos gosto: o presente de obrigação, a "lembrancinha" nada a ver, aquela retirada de uma vitrine entulhada de opões destinadas ao alívio da obrigação "de achar alguma coisa" àqueles que a assumem. Promovem a prosperidade dos comerciantes e entulham a casa do presenteado. Nessa categoria se enquadram famigerados bibelôs. Duendes da felicidade, manequinecos, pescadores da sorte e dragões chineses circulam, freneticamente, nessa época sem nem saberem o porquê.

Venho a público dar um testemunho emocionado: este ano me pouparam de bibelôs! Finalmente! Adorei isso...

Ôba! Fim de ano sem peru e sem bibelôs são garantia de ano novo mais leve e feliz!

E você? Ganhou bibelôs?

Beijos daquela Kitéss.

18.12.09

Festa de Arroto


Não me conformo com a sanha - dita gastronômica - do Natal e Ano Novo. Não me aprazem as mesas fartas de carnes, grandes mutilações ou bichos inteiros temperados, recheados, aromatizados, enfeitados, cozidos em fogo lento e expostos com orgulho salivado. Pelo contrário. Não suporto ver. Não participo.

Também não gosto de falar no assunto. Vem-me à cabeça as colossais quantidades de animais sacrificados em prol do cardápio sazonal. É punk. Tanto quanto ver os comensais excitados pelo aroma dos assados, entre ameixas, figos e fios de ovos, e, logo após, não exatamente saciados, mas impossibilitados de prosseguir na ingesta, tomados de indisfarçavel incômodo pelas emissões gasosas que lhes vêm goela acima. Já é de mal gosto falar do arroto, de forma que o resto não me atrevo a comentar.

Gastronomia de verdade você poderá encontrar aqui:

Segunda Sem Carne
SVB - Sociedade Vegetariana Brasileira - Sex, 18 de Dezembro de 2009


Não machuca ninguém. Não fere o planeta. Nem antes, nem durante nem depois da refeição. Super elegante, civilizado, refinado. Coisa de humanos de verdade.

17.12.09

Ohio Stars



Acho-as lindas. Talvez porque as tenha incorporado às boas lembranças e amizades eternas que trouxe de Ohio.

Se ela primeiro apontou em Ohio, o que é apenas uma susposição que tirarei a limpo em breve, certamente ganhou o mundo e é um clássico para quilters de todas as nacionalidades. Ou seja: piscam para o planeta!

No excelente site Quiltville, de Bonnie Hunter, da Carolina do Norte, EUA, está essa amostra maravilhosa, com um passo a passo que não deixa ninguém errar. Nem é preciso ler inglês.

Não deixe de visitar o quiltville.com. Vale a pena. Há coisas lindas por lá.

16.12.09

Patchwork Brasileiro



Vou continuar chamando de patchwork, mas me proponho a criar peças que tragam a assinatura do Brasil.

Claro que nós também temos a tradição do uso de retalhos mas, convenhamos que no exterior levaram a coisa mais a sério. Não apenas aproveitam retalhos. Adquirem freneticamente tecidos de algodão em diversos tons e estamparias. Fazem combinações lindíssimas em projetos simples e outros muito, muito sofisticados.

Podemos aprender com patchworkers de toda parte. Entretanto, posso estar enganada, mas venho achando as Australianas e Neozelandezas as mestras inspiradoras perfeitas para as patchworkers brasileiras. Conseguem juntar os motivos e técnicas tradicionais à cultura local e ao gosto tropical. Gosto de encontrar um canguru entre os flying geese, gosto das cores alegres, da assinatura da nacionalidade e meio ambiente deles.

Venho retomando a prática do patchwork, aprendida no interior de Ohio, muitos anos atrás, onde toda casa tem vários edredons quiltados e onde a Ohio Star deve ter primeiro apontado.

Minha proposta é confeccionar patchwork brasileiro. Tá bom, isso não é totalmente possível. Mas eu desejo ver a brasilidade em cada peça. A toalha abaixo é um exemplo.



A primeira reação, com tanto verde e vermelhos, pode ser de susto. Não se deixem levar. É linda! Podem acreditar. E não teria saído das mãos de uma senhora inglesa. Acho que não, por mais bruxas que elas tenham a fama de ser.

Logo logo vou postar o meu panô de araucárias, já que me enfiei na Floresta Encantada e convivo com elas.


Beijocas da Kitess.

14.12.09

Projeto em andamento

Kitéss passou a noite trabalhando. Hoje de manhã fui lá ver o que ela havia aprontado.


Será um presente de aniversário para a Malu, que  faz 1 ano e tem um quarto bonito, onde prevalecem o branco e o vermelho. Encomenda da Patrícia, que foi cuidadosa em escolher flores de cerejeira e quer o nomezinho da dona aplicado. Boa iniciativa. As almofadas de Kitéss são muito disputadas mesmo.


Falta pouco, diz ela: "Agora é só acabar as aplicações, bordar, forrar, quiltar, trabalhar nas molduras e viés, montar, fechar a almofadinha, fazer um embrulho de presente e enviá-la."


Para Kitéss essa parte dos Correios é a mais complicada... Vai precisar de ajuda. Ela não tem saído da Floresta Encantada.




Quando a almofadinha da Malu ficar pronta eu vou querer ver e mostrar para vocês.

13.12.09

Owla


Kitéss inclinou o tear, entediada de fazer inveja às aranhas. Parou de tecer e agora se aproveita de tecidos por outrem. Corta, recorta, costura, emenda e borda, febrilmente.

Tomada pelo patchwork, Kitéss nem se importa de derramar o próprio sangue quando as agulhas lhe furam os dedos. Os ratos riem. Só porque fizeram um vestido para Cinderela. Kitéss, muito competitiva, ainda rirá por último.

Numa homenagem à sua companheira das madrugadas, fez o retrato de Owla e a pregou-o numa almofadinha, para que guarde o berço de Clara.Owla pode e vem sendo reproduzida em várias cores a fim de acompanhar sonhadores de todas as idades, mundo afora. Se você gostou de Owla, reproduza-a e compartilhe conosco uma foto do seu trabalho. Owla é muito, muito vaidosa e gosta de se mostrar.

Kitéss continua vivendo na cabana escondida da Floresta Encantada. Para receber visitas criou o Ponto a Mais, uma lojinha virtual onde recebe amigos antigos e novos. Vá lá ver as novidades: www.pontoamais.elo7.com.br

Também pode deixar aqui mesmo o seu recado! Kitéss aceita encomendas, faz produtos personalizados e procura atender da melhor forma. Posso garantir. Conheço-a bem.

12.10.09

Retalhos

Preencho meus dias de Bruxa com panos picados que à noite se unem e amanhecem para uma vida nova. Uma tesoura, linha, agulha e me deleito com o fazer sem me preocupar com o resultado.

Percebo o tremor indisfarçavel de cada tecido ao simples toque.Em mãos de Bruxa não há mesmo certezas.

Do baú se soltam tecidos antigos, velhos e novos. Há os que perderam o viço, passaram de época. Tiveram tudo, ou quase tudo, para seguirem destino de vestido, serem apreciados e por vezes identificarem suas donas...A dama do vestido vermelho... Mas não encontraram quem os talhasse e lhes desse forma. Acabaram embainhados para forrar a mesa da cozinha, quando não há visitas, e hoje se distraem amparando migalhas.

Há outros casos, como o das lonas que se tornaram bolsas e vão a toda parte. Passeiam abraçadas, descansam no colo e estão sempre sob a vigilância de suas donas. Carregam segredos e valores sob fechos e bolsos insuspeitáveis, feitos para ludibriarem mãos curiosas e assaltantes. Há quem as use para se defender, mas tal atitude vem caindo em desuso.

Há tules, rendas e filós que aguardam a vez, amarelando um pouco mais a cada dia. Não os dou, não troco nem vendo. Não vejo superfície onde bem caibam. São muito delicados. Por isso os guardo, como ingrediente de feitiço a ser armado e arrematado com esmero no futuro.

17.8.09

O tesouro e a tesoura


O hábito de guardar roupas usadas é anacrônico e totalmente combatido por aqueles que foram levados a crer que a boa energia é trazida pelo novo. Não é gracioso ocupar lugar nos armários, entulhar prateleiras e caixas com peças que não usamos mais. Concordo com isso, em parte.

Como canceriana que sou preciso apalpar o passado. Portanto, entre sairem de uso e chegarem a outras mãos, algumas peças, consideradas especiais (categoria que inclui necessariamente uma forte carga afetiva), podem amarelar, perder a graça e a atualidade. E, já que perderam o poder de encantar qualquer outra pessoa, a canceriana as guarda mais um pouco.

Algumas roupas pedem para seguir adiante. São doadas, repassadas a quem possa usá-las, descartadas sem pena, com a alegria de saber que encontrarão serventia. Já outras ficam acenando lembranças. Destas eu não sei me desfazer.

O modismo do trabalho com retalhos foi a deixa que faltava para eu exibir orgulhosamente alguns guardados. Venho me atracando com tecidos antigos, buscando entre eles a harmonia, picando blusas, desfazendo saias e recortando padrões impressos na memória. Entendi como oferecer-lhes vida nova. Isso eu posso fazer, com alguns...

A sabedoria antiga ensina que o feminino dá vida, dá forma. Isto posto, posso criar e recriar sem hesitação alguma, sabendo que estou fazendo o que é para ser feito mesmo. Explicadinho, assim, entendi porque me lanço, instintiva e por vezes febrilmente a pintar, tecer, restaurar móveis, cozinhar, reaproveitar alimentos, e mais.

O patchwork liberta! Minhas preciosas túnicas, saias, blusas e até seus botões serão patchworkados e quiltados, surgirão faceiros e irreconhecíveis aos olhos de muitos - o que aflora um prazer recôndito num risinho de lado. Gosto que me enrosco de pensar que estou secretamente exibindo um pedaço palpável do meu primeiro baile, do lençol de berço da minha filha, de momentos preciosos testemunhados pelos tecidos da minha vida. Poucos conhecem; poucos saberão.

Me causa assombro o que vejo em blogs de patchworkers. Tenho muito o que aprender. Por isso, e só por isso, vou deixar os tecidos mais queridos para usá-los mais adiante...

2.7.09








Criei este blog a fim de implantar uma disciplina de trabalho. Escrever exige muita disciplina e eu preciso lançar mão de várias artimanhas para encontrar a minha quota. Blogar se tornou um hábito, um vício se preferirem, e me possibilitou a retomada da disciplina de escrever. O resultado palpável extrablogue já surgiu.


O primeiro livro publicado é O Balão Branco, que dá início à série Os Quatro Elementos. O livro inaugura o selo Giostrinho, da Giostri Editora. O entusiasmo e generosidade de Alex Giostri foram fundamentais para a concretização desse trabalho.


As demais histórias, sobre Terra, Fogo e Água, virão a seguir. O primeiro é sobre o Ar, pois deve-se começar pelo início. Faz parte da disciplina que eu persigo. Entre uma e outra é possível que sejam publicadas outras histórias, independentemente da série citada.


Este post tem como objetivo explicar a ociosidade do blog durante algum tempo. É claro que não foi só isso. Quando perco um hábito preciso encetar poderoso ritual para retomá-lo! Não abri o tear, me pus a emendar trapos em trabalho de patchwork e quilting, e creio ter me excedido no tamanho dos projetos. Agora, um pouco lá, um pouco cá, outro acolá, quero dividir melhor o tempo entre todas as atividades que me atraem irresistivelmente!


Estarei em São Paulo entre os dias 10 e 13 de julho. Os eventos de lançamento serão feitos em tres lojas diferentes da Livraria da Vila. Haverá coquetel, distribuição de balões, contação de histórias e a representação de dois atores. Preciso ver tudo isso de perto! Talvez leve um crochezinho portátil!


Depois será no Rio de Janeiro, onde morei a maior parte da minha vida. A seguir Curitiba, onde escolhi morar, 12 anos atrás e desde então. Depois é depois. Já há traduções da história para o Francês e o Espanhol e espero em breve noticiar a publicação no mercado internacional.


Vou procurar meus fios...

12.3.09

Miguezim de Princesa, de pronto!

A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
Miguezim de Princesa

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

7.3.09

Paulinho da Viola, com a elegância de sempre.




Descascando a Bala
Paulinho da Viola


Parece um detalhe minúsculo diante da grandiosidade do fato histórico que acabamos de presenciar, mas eu começo meu texto falando em quem? Nele, no Presidente Lula. Para ressaltar o que acho ser o vale profundo que separa nossos países.
Lula descasca uma bala, Obama a desembrulha. Lula joga o papel no chão e acha isso perfeitamente natural; insiste que no mundo todo isso nem seria notado. Obama, caso aceitasse comer uma bala durante solenidade oficial, poria o papel no bolso até poder jogá-lo numa lixeira. É um detalhe? É, mas daqueles fundamentais, como o sorriso da Mona Lisa: em toda a tela de da Vinci, quanta beleza, quanto talento, quantos simbolismos. Mas o que mais chama atenção? O pequeno detalhe do sorriso.
Obama foi eleito presidente dos EUA e não do mundo. Seu interesse primeiro é seu país e o povo americano. Problemas internos, muito sérios, não lhe vão faltar. Mas, pela primeira vez na história daquele país, foi eleito um homem mestiço, filho de um queniano e de uma jovem do Kansas, que passou parte da infância entre o Havaí e a Indonésia, teve oportunidade de conviver com crianças e jovens de outras nacionalidades, de conhecer outras religiões e filosofias, e que por mérito e esforço próprios cursou boas universidades na Costa Leste. Isso o diferencia de todos os outros presidentes americanos.
Sobretudo o diferencia de George W. Bush, rapaz muito rico, mas que até ser presidente da República nunca tinha ido além do México. E assim mesmo porque era muito perto de sua casa, talvez até considerasse aquele país a continuação de seu quintal.
A eleição foi uma festa, uma linda festa que congregou, e aí está sua maior beleza, a grande maioria dos americanos e não somente os brancos, anglo-saxões e protestantes. Os EUA celebraram aquilo que já deveria ter sido celebrado desde o fim da Guerra Civil, desde que imigrantes começaram a desembarcar de navios abarrotados de gente no porto de Nova York. Finalmente ouviram a voz da Estátua da Liberdade e responderam aos agourentos que achavam aquela grande nação à beira do desaparecimento. Como disse o presidente-eleito na noite de sua vitória: "Foi a resposta dada pelos jovens e velhos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, latinos, asiáticos, índios, homos, heteros, inválidos e não inválidos - somos e sempre seremos, os Estados Unidos da América".
Barack Obama viu mais longe que os outros; não podemos desmerecer a luta e o sacrifício pessoal de Lincoln, de Martin Luther King, de Rosa Parks, dos meninos de Little Rock. Mas Obama viu que o que uniria o país era a força de seu "melting pot" em potencial, e não o ódio, não a vingança, não o punho cerrado, mas o abraço.
Pode ser que ele não consiga realizar o sonho das multidões que vibravam e choravam na noite de 4 para 5 de novembro. Seja como for, ele abriu a porta, derrubou barreiras, rasgou a picada, deu os primeiros passos. Torcida não lhe vai faltar.
Enquanto isso, no Brasil, o Chefe da Nação não diz duas palavras sem atiçar o fogo, sem jogar brancos contra negros, pobres contra ricos, instruídos contra iletrados, nordestinos contra sulistas, partidos contra partidos, povo contra a Imprensa, todos contra todos. Não fala, grita, berra. Esfalfado, ouve os uivos da platéia, acha que está sendo adorado, e parte para outro palanque.
Criou um Ministério da Integração Racial que é tudo que nós menos precisamos. Seu titular teve a idéia de criar a Delegacia do Negro! Se um negro é assaltado, ele vai procurar a delegacia dele, não uma delegacia qualquer.. Breve, delegacias para japoneses, coreanos, chineses... e o nome disso é Integração Racial.
"Espero que Obama (...) não vá gastar um ano sem resolver imediatamente a crise. Agora a crise pode ser debitada ao atual governo, mas um ano depois de ele tomar posse é dele também", disse Lula. Quer dizer, o Obama não pode apelar para a herança maldita do Bush! E ainda: "Acho que ele é suficientemente inteligente para tomar as medidas para evitar que a crise continue".
Pode deixar, Lula, Obama é brilhante. Peça ao Amorim para ler consigo o site que ele inaugurou logo no dia 5, Change.gov. Vá direto à política externa. É de chorar de emoção. Depois, leia todo o site e aprenda como se faz política respeitando o povo, o eleitor, o cidadão. O dado concreto, Lula, é que Change. gov é extraordinário!
As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender!



Para quem ainda não viu: http://change.gov/content/home

2.3.09

Mulheres




As faces mudam. Mudam continuamente as idéias, os conceitos e as técnicas de pintura. Nas obras consagradas o mistério sob o olhar feminino permanece.


A sensibilidade dos artistas eternizou as faces e as obras que aparecem no filmete abaixo. O mistério continua...


Um trabalho muito bonito.



28.2.09

Pacífico é só um nome



A imagem da tartaruga que cresceu entalada no anel de plástico é devastadora. Ilustra o lado sinistro do que entendemos por "progresso". Muito chocante, muito triste imaginar o sofrimento do animal que é um ícone da batalha entre a própria força da Vida e os obstáculos destrutivos que nos especializamos em criar e disseminar.

Esta tartaruga é uma vítima - entre milhões de outros seres - do lixão do Pacífico em especial e do Lixo em geral. Melhor dizendo: da quantidade de lixo que produzimos. Melhor ainda: uma vítima da Humanidade, que se tem como dona do planeta, quando é o apenas o seu pior locatário. Vou mais longe: diria que é vítima nossa, de todos nós que aceitamos e patrocinamos o plástico produzido, utilizado, descartado em grande escala e de qualquer jeito. Um passo além: a tartaruga é vítima de mim mesma. Só a culpa pessoal, intransferível explica o meu sentimento frente à imagem. É uma culpa generalizada, porque é de todos nós, porém a minha parcela de culpa é intransferível e sofro com ela.

Imagino que, pulando para um outro nível de reflexão, esta foto tenha paralelo sutil nas distorções que a Cultura produz em cada um de nós. A deformação física da tartaruga a mim parece comparavel às deformações que as imposições sociais nos causam. Talvez haja mais que uma tartaruga nessas condições; certamente há uma legião de pessoas deprimidas, apresentando síndrome do pânico, bipolaridade, tantas outras sequelas emocionais.

Bons pares para a tartaruga, agora recolhida e quiçá aos cuidados de veterinários, é o bem vestido, bem malhado, bem sucedido executivo com crachá ao peito, lap top na mala, celular, celulares talvez, iPhone com câmera, wi-fi e GPS... ou a mulher embonecada, plastificada, botocada, preenchida, cerzida, esticada e costurada, montada em altos saltos, cabideiro de grifes aberto em grandes decotes para ostentar seu mais novo silicone. Eles não vêem que o anel os está esmagando. Em relação à tartaruga este pensamento não me conforta porque ela está pouco se lixando para o que pensem dela. Não foi o que a prendeu, deformou. É mais sabida do que isso. Mais inocente. Mais indefesa.

Receberia com prazer informações sobre como descartar o lixo sem desobedecer as regras do condomínio, que são claras: tudo embalado em sacos plásticos bem amarrados.

De quebra, se alguém puder me ensinar como se pode salvar filhos da insânia da sociedade, para que não se sintam como a tartaruga...

Piano

O maior barato!
Não vou nem contar!
Vá lá ver.

http://www.bgfl.org/bgfl/custom/resources_ftp/client_ftp/ks2/music/piano/index.htm

Antropo-demorfismo

Cada um com sua mania e eu tenho várias. Me livrei do TOC mas recaí na implicância irreversível com a arrogância humana latu sensu.

O título do post soa pretencioso. Não mais que a atitude humana em dotar objetos, vegetais e animais de feições e trejeitos humanos. A antropomorfismo é coisa tão antiga quanto a humanidade. Já era tempo de termos mudado o padrão.

Jamais deixei um morango, um tomate ou uma cenoura de pernas compridas e olhinhos faceiros no baú de brinquedos da minha filha. Muito menos grudados à porta da geladeira. Uma monstruosidade! Teria uma criança a maldade de comer uma cenoura ralada na salada após uma tal apresentação? Minha filha comeu toda a salada que lhe servi, sem pena. Talvez nem por isso, mas gosto de acreditar que sim.

Não alcanço a graça de um Bob Esponja. Sinto muito. Reconheço o primor com que foi feito A Bela e a Fera, mas sempre me perguntei se uma criança não se sente aterrorizada com o fato dos objetos adquirirem vida própria. No conto do Soldadinho de Chumbo e da Bailarina, e versões mais atuais, os brinquedos interagem enquanto a criança dorme. Qual é a vantagem? Porque se fazem de mortos durante o dia e não brincam também? Tem alguma coisa errada aí!

Vivemos com uma cadela há 10 anos. Aprendi muito sobre a minha própria ignorância e limitações através dela. Bicho muito paciente a Lua. Custei a descobrir que ela vinha "me incomodar", latir, chamar, porque havia comida queimando ou gente presa no elevador... coisa que meus sentidos de audição e olfato não percebem com a mesma acuidade. Antes de aprender, eu achava que ela estava pedindo comida, queria sair, brincar... Não. Queria informar. Pedia desesperadamente para que eu salvasse a panela de arroz e um desastre maior. Hoje entendo que ela monta guarda quando coloco arroz no fogo. Falta ela aprender o ponto certo de me chamar ... ou eu atender ao chamado prontamente. É uma dúvida que eu, humildemente, guardo. No atual estágio consigo salvar 3/4 do arroz.

O vídeo abaixo (do qual não recebi informação da fonte) nos mostra o quanto somos patéticos. Tenho dó dos gatos, diminuídos à dimensão e deformação humanas...


27.2.09

Tom e Elis

Lindos, interpretando lindamente a lindíssima Águas de Março.


Fonte: Elzo Mirahy

Mario Sergio Cortella

Mario Sérgio Cortella, autor Qual é a sua Obra? lavrou a frase abaixo que transita pelas caixas de e-mail sem trazer junto a informação sobre a autoria.

“É absurda a ideia que entende que alguém, quanto mais vive, mais velho fica. Para que alguém, quanto mais vivesse mais velho se tornasse, teríamos que ter nascido prontos e irmos nos gastando. Ora, isso acontece com carro, fogões ou sapatos; com humanos e humanas, não. Nascemos não-prontos e vamos nos fazendo; eu, neste momento, sou o mais novo de mim, minha mais nova edição (”revista e ampliada”) e, se o critério para a velhice é o tempo, o mais velho de mim está no passado."

A entrevista abaixo dá medida do que se encontra no livro.
Vale a pena aplicar alguns minutos assistindo-os.

http://www.youtube.com/watch?v=QK5LDsEKuEA

http://www.youtube.com/watch?v=_D6KSnYtMFY

25.2.09

Plutão em Capricórnio II



Esta foto retrata uma cerimônia tradicional do povo japonês, súdito de Plutão desde sempre e para toda a eternidade, em prol de saúde para os bebês e boa colheita agrícola, o que está no mesmo balaio.

Muito plutônico demais da conta. Enquanto Plutão estiver em Capricórnio a lambança vai ser maior ainda. Caso em que, uma coisa bem útil será o sabão.

Plutão em Capricórnio




Maurício Bernis, autoridade em astrologia aplicada à economia e relações internacionais, dá a dica para enfrentarmos galhardamente a entrada de Plutão em Capricórnio



Produzir coisas úteis? Ainda bem que a lista é grande... Eu começo, vocês completam!


O que útil para um ariano?


Canivete, uma bandeira para mostrar que chegou primeiro. . .


Para um Taurino?


Toalhas de mesa bordadas, a bolsa de guardar dinheiro. . .


Para o geminiano?


Um bilhete de passagem para qualquer lugar, um almanaque . . .


Para um canceriano?


Uma panela, uma banheira, um tear, um berço, o mapa da Lua, objetos longamente entesourados . . .


Para um leonino?


Ouro, tapetes vermelhos ,platéia . . .


Para um virginiano?


Uma fita métrica, uma vassoura...


Para um libriano?


Óculos escuros, dois pesos e duas medidas...


Para um escorpiano?


Cianureto, armadura, o segrêdo da invisibilidade. . .


Para um sagitariano?


Binóculos, escada...


Para um capricorniano?


Bengala, tijolos...


Para um aquariano?



Traje de astronauta, escafandro...


Para um pisciano?



Bússola, um cordão para amarrar a bússola ao pescoço...




Não briguem comigo!!



Estou sempre experimentando alguma novidade aqui no blog. Não economizo tempo no embate com os softwares mas também não ganho deles, que têm uma relação com o tempo completamente diferente da minha. Mal foram criados e implantados eu me coloco como aprendiz de seus mistérios mas ... são de súbito substituídos. Tem a duração de vida de uma libélula e me fazem sentir como a pedra onde pousou o inseto desaparecido.

Desta vez foi desastre total. Tentei facilitar a postagem, pois as reclamações via e-mail são constantes. Eu adoraria que as msgs pertinentes ao blog viessem direto para cá, o que permitiria, inclusive, a interação entre leitores, já conhecidos entre si ou não. Todavia, não foi ainda desta vez!

No meio do caminho mudei o modelo, as cores, a configuração... Daí eu ter perdido, ao menos momentaneamente, a intimidade com os recursos oferecidos no blogger. A cada modelo utilizado temos que reaprender o que se pode ou não mudar. Alguns são mais plásticos, outros mais rígidos. Acho este rígido. Pétreo. Gostei do verde mas não tanto da intransigência comigo. Ainda encontro o jeitinho ou mudarei novamente o lay out.
Certo é que continuarei tentando facilitar a postagem. Baby blog fica todo pimpão quando recebe um comentário!


24.2.09

Coitado do bicho!



O que entende a perua
de brincos, batom ou salto?
Se a moça abusa deles
vira perua no ato.
E o amigo fiel? É cachorro?
Não sei não...
Chamar o amigo de cão
não dá samba nem perdão.
E o poderoso elefante?
É melhor não comparar.
Se alguém parece elefante,
por certo não é elegante.
É como a linda baleia,
maior bicho do planeta!
A pessoa além de feia
tem barriga enorme e cheia.
Formiga? Trabalhadeira.
Sempre exibindo pressa,
sem falar que por açúcar
arrisca a saúde e a beleza.
A cigarra por sua vez
é alegre e descansada.
Espera para cantar
E canta até estourar.
Mas o burro é o pior!
Bicho tão atarefado!
Pelo tanto que trabalha
ninguém fala do suor!
Só lembram assim do gambá,
cujo mau cheiro é defesa:
dá nome a quem falta ao banho
pela inhaca que despeja.
O porco é amigo de lama,
come resto e comida estragada.
Porco é quem não se trata,
anda roto e melecado.
Ninguém sabe bem ao certo
se para o porco lama é trato.
Será a onça tão brava?
Será o leão tão valente?
Será a anta tão burra?
Será que tem bicho gente?

23.2.09

Amigos, cheiros e saudades

Andei melancólica... Muita água para o meu caldeirão de bruxa... Entretanto, notícias de amigos distantes ateiam fogo à lenha e fazem a água do caldeirãozinho borbulhar, serelepe.

Tenho amigos perto e longe de mim. Há os que não costumo ver com frequência mas que habitam a minha alma. Há os que não vejo há muitos anos e não perco a esperança de reencontrar. Não sei o que o tempo terá feito a partir da imagem que guardo deles. Não sei nem o que fez com a minha. Quem se importa?

Carrego lembranças ilustradas por aromas e sabores. Não me lembro se algum dia eu soube o perfume que qualquer um de meus amigos usava, mas guardo o cheiro dos alimentos que partilhavamos. Cheiro de ostras, bobó de camarão, donuts, acarajés, cous-cous - e o odor absolutamente marroquino exalado pelo cozinheiro! Tantos outros! Quem se esqueceria do gosto e o prazer de um chá ou um café perfumoso, de um bom vinho, de cerveja gelada, sob o sol tórrido ou dentro de agasalhos pesados, se a companhia foi boa e o afeto sincero?

O fogo é dono das emoções. Cria as amizades e os amores. Ampara-os, fortalece-os à mesa. Um fondue, um churrasco ou um bom cozido vegetariano marcam uma reunião gostosa. Uma saladinha eu já não sei. É preciso um cheiro, um aroma que o vento leve para eternidade.

Para sermos totalmente justos é preciso lembrar que, a serviço do fogo, o ar leva e traz lembranças; a água reina sobre a melancolia do tempo passado e apela à terra pela reconstrução palpável.

O mesmo ar que levou para longe nossos afetos nos traz uma boa idéia para descobrir como encontrá-los novamente. A água faz esperar, em persistente silêncio. Ainda estaremos juntos, de mãos materialmente dadas, numa aliança que nunca se desfez, posto que é chama.

Menos melancólica agora. Vou cozinhar, em fogo lento, o almoço de hoje e os encontros de amanhã.

21.2.09

Holywood mata



Chegou à TV, com grande alarde, o filme Juno, comercial de longa duração das balinhas TicTac. A protagonista fala até que cada bala só tem uma caloria! Pode-se ingeri-las às centenas...

O império Tic Tac foge a dimensionamentos. A gente fala da inclusão de merchandising nas novelas de tv, nos BBB, nos programas em geral e continua engolindo Hollywood cegamente. Aconteceu com o cigarro, com a Coca Cola, com o McDonald´s. A lista é infindável e passa pelo Náufrago com seu Fedex e Wilson, que a TV não permite enterrar nunca.

Não é à toa que a produção cinematográfica é considerada atividade estratégica nos EUA e a segunda maior indústria do país. Hollywood é pura guerra. Hollywood promove ocupação e domínio. Hollywood embala. Hollywood mata.

Carta do leitor - Jornal Copacabana


Morador de Rua
"Gostaria de pedir encarecidamente as autoridades do bairro de Copacabana que fosse até a Rua Belfort Roxo, esquina com Av Atlântica, onde uma senhora (moradora de rua) fixou residência. Esta senhora possui uma criação de gatos, cada vez maior, colocando em risco de doenças as pessoas que freqüentam a praça do Lido, principalmente as crianças. Lembro que esta senhora chegou ali há alguns anos naquela calçada com um guarda-sol e hoje ela tomou conta da calçada quase toda impedindo até pedestres de transitar, sem contar com o mau cheiro insuportável de gatos e suas fezes. Por favor, vejam que isso esta acontecendo quase na esquina de uma das avenidas mais lindas do mundo, Onde estão as autoridades de Copacabana? Porque não transferem aquela senhora para um abrigo onde ela possa ter mais condições de vida e os moradores, voltem a freqüentar a Praça do Lido, porque ela tem que viver com uma porção de gatos na esquina da Av Atlântica?

ântica."

Acima, a carta publicada. A desarticulação em preto e branco.

Eu gostaria de perguntar o que incomoda mais à/ao missivista: de ser uma senhora, dela estar rodeada de felinos e seus excrementos, a poluição da paisagem, a obstrução da passagem de pedestres, a confrontação de crianças com a sujeira da miséria...

Os grupos de homens e mulheres mais jovens, igualmente residentes da orla, podem ficar? O tráfico de drogas, as armas improvisadas ou formais das quais se utilizam, podem permanecer? A mendicância andarilha fica? Fechemos os olhos frente à prostituição em geral e a infantil em particular? A prostituição em todas as suas feições e derivativos, e que há muitos anos ocupou as calçadas do bairro e a praia, não precisa ser banida, tratada, os seres humanos recuperados? O turismo sexual pode? O punguismo pode? Os assaltos, os roubos, os assassinatos, os tiroteios incomodam menos? Vale para Copacabana e para a cidade inteira.

Sou forçada a lhe dizer, prezado/a missivista, que não há mais solução: os ratos invadiram a sua praia. Ela, a tal senhora, sabe disso e muito mais.

13.2.09

Jane Juska II

Ou nossa autora Jane Juska está fazendo escola ou é a ponta de um iceberg: a pequena cumeeira que alcançou visibilidade. As escolas não aprovaram o método e não vão adotar o livro de Jane! Ao menos não as de Ohio.



G1 > Planeta Bizarro - NOTÍCIAS - Professora coloca anúncios de sexo em site e é presa em motel nos EUA

8.2.09

Amós Oz




Assisti, faz algum tempo, uma entrevista de Amós Oz a uma tv brasileira. Eu nem diria uma entrevista. Foi mais um recital em que ele apresentava suas próprias canções, letra e música já buriladas, tom e ritmo ajustados de tanto encontrar quem o queira ouvir e retransmitir.

Expôs idéias sobre o conflito árabe israelense com a autoridade de ser uma voz de Israel propagada para o resto do mundo através de reportagens, libelos, livros e do movimento Peace Now do qual é co-fundador. Não havia pergunta que o pegasse desprevinido. Para cada uma delas acionava uma canção do repertório. Mesmo assim tudo o que ele disse prendeu a minha atenção, talvez menos pelo conteúdo e mais porque eu quisesse ver até onde ele ia com o terço das orações mil vezes entoadas.

Houve, entretanto, um ponto em que a mágica se deu: ele me encantou e passou a fazer parte da minha vida ao soltar seu cântico sobre a disciplina que adota como escritor.

Disse ele que acorda às 5 da manhã, sai porta afora e caminha pelo deserto, que começa a 5 minutos da casa dele. Volta uns 50 minutos depois, alimenta-se e, nos versos dele, abre a loja. Contou que desenvolveu a mentalidade de um shop keeper, termo que só em inglês engloba o significado de alguém que trabalha, cuida e mantém um estabelecimento comercial. Não é só comerciante, lojista ou vendedor. É shop keeper mesmo.

Trata as idéias como clientes. Abre a loja: senta-se à escrivaninha, papel e várias canetas esferográficas descartaveis à mão, esperando a freguezia. Há dias em que o público acorre em massa, outros em que não entra ninguém, mas ele lá está sempre, preparado para receber as visitas e não deixá-las escapar. Se apontar um só cliente já se dá por satisfeito. Assim escreveu mais de uma dezena de livros, inúmeros artigos e manisfestos.

Gostei disso. A criação deste blog foi a minha versão pessoal como shop keeper. Não dou antes ao corpo o trabalho de uma caminhada nem o conforto de uma refeição. Aprendi a não selecionar clientes. Trato-os bem, trato-os mal e, sem o menor constrangimento, os arremesso neste balcão. Esse treinamento de censura zero me tornou capaz de escrever e expor outros textos. Meus clientes que me perdoem se por ora não posso lhes dar mais que atenção, mas garanto-lhes que estou me esforçando no ofício.

Não dá para escapar: a liberdade vem pela estrada da disciplina.

Vou agora tomar meu café. Um bom dia a todos!

7.2.09

Uma mulher de vida airada, de Jane Juska


Computador restaurado, pude ler o texto abaixo, o qual me foi enviado por e-mail sem citar a fonte. Sorry. Transcrevo-o tal como o recebi, com o prazer de divulgar mais uma página virada na história da libertação feminina. Nem sei se vou ler o livro. Certamente não o comprarei, pois para mim basta que Jane Juska tenha se rebelado. Saber que ela teve um desejo, realizou-o a despeito do forte embaraço que a moralidade do meio-oeste americano pode representar para uma mulher passada dos 60, e que depois disso ela ainda bota a boca no trombone para contar sua proeza, me é suficiente.

Eu, que não cheguei à marca dos 60, frequentei um colégio público em Ohio, Meio Oeste total, onde as meninas eram obrigadas a usar meia-calça e cintas o ano inteiro, fizesse frio ou calor. Não havia uniforme, claro, mas meia-calças e cintas não eram facultativas. Uma questão de decência.

Talvez passasse desapercebida a ausência de cinta numa ou noutra mocinha mais magrinha como tantas havia. Não sei quem a revistaria nem qual sanção seria aplicada a uma aluna que desafiasse a regra. Cuidei de seguir a ordem porque acredito no ditado: em Roma como os romanos. O Rio de Janeiro me aguardava.

Depois de lutar contra os quilos adquiridos em um ano de permanência em Ohio, comendo o que a princípio não atrai e posteriormente não sacia, voltei a usar os biquinis confeccionados a partir de míseras quantidades de pano, mini saias igualmente usurárias e largas pantalonas que Ohio veio a conhecer muitos anos depois e adotar com muitas reservas. Mais pano nos biquinis e saias, bem menos nas patas de elefante das pantalonas. Tudo muito comedido.

No Rio, faltar ao serviço religioso - não importa qual - de domingo não causava perplexidade à congregação, massa um tanto difusa mesmo num bairro pequeno como o Leme. A postura de estátua não era considerada normal, muito menos a ideal para demonstrar polidez. Não havia risco de duas pessoas conversando na esquina serem acusadas de complô que justificasse dispersão pela polícia nem se ouvia às 22h o apito de recolher para os jovens abaixo de 18 anos. No Rio a brancura da pele não era considerada um dado de beleza. É uma terra de sol, de liberdade de credo, de muitos sotaques, de miscigenação de hábitos e costumes, de riso fácil e gestual aberto. Uma cidade que abraça e inclui. Sempre achei que o Brasil sim é a terra da liberdade onde todo sonho é possível. Só nos falta um Obama a repetir "Sim, nós podemos." , mas se o preço a pagar por um Obama é um Bush vamos deixar isso para lá .

Eis a transcrição da matéria que originou a minha divagação!

"A professora aposentada Jane Juska tinha 66 anos e um jejum sexual que durava três décadas quando decidiu publicar um anúncio incomum num jornal de literatura de Nova York: "Antes de completar 67 anos – no próximo mês de março –, eu gostaria de fazer muito sexo com um homem de quem eu goste". Jane, então divorciada e já com um filho adulto, imaginou que no máximo dois ou três homens dariam retorno. Mas sua caixa postal recebeu 63 respostas. Ela escolheu alguns dos candidatos e marcou encontros para conhecê-los pessoalmente. Fez sexo com quatro deles (um de cada vez). O ato de coragem só não foi maior que, anos depois, contar suas aventuras no livro Uma Mulher de Vida Airada – Memórias de Amor e Sexo depois dos 60, que chega ao Brasil nesta semana. Jane afirma que antes de publicar o anúncio se perguntava se nunca mais teria um homem – e essa dúvida fez soar um alarme. "A maioria das pessoas de idade, em especial as mulheres, têm medo de correr riscos", diz. "Preferi agir a esperar que alguma coisa acontecesse". Antes de publicar o anúncio, ela havia tentado outras formas de despertar o interesse em potenciais parceiros. Freqüentou bares e festas, em vão. Quando percebeu que a idade não era sua aliada numa paquera, desistiu. Ela diz ter acreditado que era melhor o celibato que a humilhação. A ousadia de publicar o anúncio mudou sua vida.
Quando as respostas dos pretendentes começaram a chegar, Jane teve o luxo de poder escolher. Ela separou as cartas, como conta no livro, em montinhos de sim, não e talvez. Escolheu os mais originais e equilibrados – já que sua caixa postal recebeu até mensagens pornográficas e fotografias de nu frontal.
Em pouco tempo, ela deixou de lado a educação vitoriana do Meio-Oeste americano, a dor dos fracassos amorosos, os problemas de excesso de peso e da queda pela bebida para seguir até o aeroporto onde esperaria o primeiro candidato. "Foi o momento em que tive mais medo. Quase desmaiei quando vi que ele carregava uma caixa com objetos que faziam barulho. Pensei: 'São brinquedos sadomasoquistas!'. Depois, descobri que eram garrafas de vinho", diz.
Depois de Jonah, de 82 anos – o primeiro –, não parou mais com os encontros. Jane não mede palavras para relatá-los. Um dos candidatos, mal se apresentaram, pegou em seu traseiro. Outro pediu que ela apoiasse seus seios na mesa do restaurante – e os apalpou. Houve até quem tenha roubado sua calcinha. Ela também fala de masturbação e gosta de expor seu desejo pelo sexo masculino, fazendo referências ao corpo dos homens, em especial o traseiro. A maioria deles beirava ou passava dos 60 anos.
Mas houve Graham, de 32, segundo ela um sósia do galã David Duchovny, de Arquivo X, que depois se tornou um grande amigo. "Eu me diverti muito", afirma. No meio de tanta diversão, apaixonou-se. Robert, porém, tinha outro relacionamento – além de dores insuportáveis na coluna, o que tornava o sexo mais difícil.
Uma Mulher de Vida Airada não fala só dos encontros sexuais de Jane, mas de sua vida e escolhas. Do relacionamento com os pais à paixão pela literatura, do divórcio às aulas de redação para presidiários, Jane dá o pano de fundo para a maior aventura de sua vida, mostrando que a terceira idade não precisa ser um tempo apenas de renúncias e lembranças. Hoje, aos 75 anos e colhendo os frutos de seu livro, lançado no mundo inteiro, ela diz que continua em atividade. "Já não preciso mais de anúncios", afirma."

16.1.09

O misterioso bule




Tomo como corretas algumas afirmações por princípio e por genuína humildade. Reconheço que não absorvi as poucas noções de ciências exatas (exatas?) às quais fui exposta à força e me afastei deliberadamente das que pude enquanto estudante. Hoje a curiosidade ganha da dificuldade de compreensão e se atropela com a ignorância.
Visitando o site do Bordalier Institute (http://www.bordalierinstitute.com/) encontrei o quadro acima. Deixou-me atônita, imaginando que talvez sejamos recalcitrantes nessa coisa de explicar o complexo, fora do nosso alcance, e conviver com o inexplicavel. Exóticas mentes humanas se alimentam do contraditório. Fazemos guerras em nome da paz, condenamos e matamos em nome de um Deus, combatemos a nossa própria integridade das mais diversas formas...


Sempre tomei como natural que um bule fosse preenchido com líquido, no todo ou em parte, e que este vertesse com naturalidade. E é. Mas não é.
Talvez seja mais natural do que se imagina um gênio se desprender de uma ânfora, ancestral do bule. Trata-se de objeto mágico. Se a Física não explica nem como sai o líquido porque haveriamos de supor que um gênio não o habite?

12.1.09

Rosas, pães e pássaros



Estou saindo pouco, viajando muito. A poucos metros de casa tenho encontrado coisas que jamais vira. Encontrei uma roseira comunitária numa rua aqui perto. Muito bem cuidada. Alta, viçosa, bem apoiada, coberta de flores. Imagino que na maioria das cidades uma roseira de esquina, do lado de fora do muro, em plena calçada, não teria vida longa. Que as flores, caso vingassem, seriam prematuramente cortadas, ainda em botões e estariam sangrando, fenecendo, dentro de vasos, sobre mesas, dentro de casas.

Encontrei também uma artimanha fantástica, que só pode ser coisa de bruxa. Vários pães amarrados a umas duas ou três árvores da mesma região. Logo que vi não atinei. Arte de criança escondendo merenda? Fiquei olhando os pães amarrados com elásticos brancos, dos que se colocam em cós de saias e mangas bufantes. Coisa de mulher. Costureira, certamente. Preocupa-se em alimentar pássaros e protegê-los contra a fome e ratos. Talvez acredite que ratos não subam em árvores. Será que sobem? Mulheres não entendem de ratos, nem querem. Só querem saber de pássaros, pães e rosas.

6.1.09

Passos

Pressa, pressa,
passam depressa
passageiros
passos apressados
enquanto... Os meus?
Esses eu os faço lentamente.
Devagar.
Desviam de mim o passo e o olhar,
sem se deterem, sem esbarrarem
sem derrubarem seus personagens.
Seguem com pressa, todos.
Na mesma cadência apressada,
passam aprisionados
passos apertados
rumo conhecido,
obstinado, insano destino.

À minha volta só pressa.
Eu atravanco a passagem no meu vagar.
Repito ditos antigos e falo de ciclos,
de ritmo e estações
com a calma que irrita
e o sorriso que enfurece, talvez.
Todos se desviam de mim
com pressa inconciliavel.
Sinto o chão,
escuto o segredo
das raízes de todas as coisas,
que me dizem,
sussuram,
revelam:
Há pés dentro das fôrmas,
das tiras,
das formas,
dos bicos,
dos saltos,
dos canos...
apertados, torcidos, doloridos,
esquecidos de fazer marcas no chão.
Mas ainda assim há pés.