23.2.09

Amigos, cheiros e saudades

Andei melancólica... Muita água para o meu caldeirão de bruxa... Entretanto, notícias de amigos distantes ateiam fogo à lenha e fazem a água do caldeirãozinho borbulhar, serelepe.

Tenho amigos perto e longe de mim. Há os que não costumo ver com frequência mas que habitam a minha alma. Há os que não vejo há muitos anos e não perco a esperança de reencontrar. Não sei o que o tempo terá feito a partir da imagem que guardo deles. Não sei nem o que fez com a minha. Quem se importa?

Carrego lembranças ilustradas por aromas e sabores. Não me lembro se algum dia eu soube o perfume que qualquer um de meus amigos usava, mas guardo o cheiro dos alimentos que partilhavamos. Cheiro de ostras, bobó de camarão, donuts, acarajés, cous-cous - e o odor absolutamente marroquino exalado pelo cozinheiro! Tantos outros! Quem se esqueceria do gosto e o prazer de um chá ou um café perfumoso, de um bom vinho, de cerveja gelada, sob o sol tórrido ou dentro de agasalhos pesados, se a companhia foi boa e o afeto sincero?

O fogo é dono das emoções. Cria as amizades e os amores. Ampara-os, fortalece-os à mesa. Um fondue, um churrasco ou um bom cozido vegetariano marcam uma reunião gostosa. Uma saladinha eu já não sei. É preciso um cheiro, um aroma que o vento leve para eternidade.

Para sermos totalmente justos é preciso lembrar que, a serviço do fogo, o ar leva e traz lembranças; a água reina sobre a melancolia do tempo passado e apela à terra pela reconstrução palpável.

O mesmo ar que levou para longe nossos afetos nos traz uma boa idéia para descobrir como encontrá-los novamente. A água faz esperar, em persistente silêncio. Ainda estaremos juntos, de mãos materialmente dadas, numa aliança que nunca se desfez, posto que é chama.

Menos melancólica agora. Vou cozinhar, em fogo lento, o almoço de hoje e os encontros de amanhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário