12.10.09

Retalhos

Preencho meus dias de Bruxa com panos picados que à noite se unem e amanhecem para uma vida nova. Uma tesoura, linha, agulha e me deleito com o fazer sem me preocupar com o resultado.

Percebo o tremor indisfarçavel de cada tecido ao simples toque.Em mãos de Bruxa não há mesmo certezas.

Do baú se soltam tecidos antigos, velhos e novos. Há os que perderam o viço, passaram de época. Tiveram tudo, ou quase tudo, para seguirem destino de vestido, serem apreciados e por vezes identificarem suas donas...A dama do vestido vermelho... Mas não encontraram quem os talhasse e lhes desse forma. Acabaram embainhados para forrar a mesa da cozinha, quando não há visitas, e hoje se distraem amparando migalhas.

Há outros casos, como o das lonas que se tornaram bolsas e vão a toda parte. Passeiam abraçadas, descansam no colo e estão sempre sob a vigilância de suas donas. Carregam segredos e valores sob fechos e bolsos insuspeitáveis, feitos para ludibriarem mãos curiosas e assaltantes. Há quem as use para se defender, mas tal atitude vem caindo em desuso.

Há tules, rendas e filós que aguardam a vez, amarelando um pouco mais a cada dia. Não os dou, não troco nem vendo. Não vejo superfície onde bem caibam. São muito delicados. Por isso os guardo, como ingrediente de feitiço a ser armado e arrematado com esmero no futuro.

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