16.1.09

O misterioso bule




Tomo como corretas algumas afirmações por princípio e por genuína humildade. Reconheço que não absorvi as poucas noções de ciências exatas (exatas?) às quais fui exposta à força e me afastei deliberadamente das que pude enquanto estudante. Hoje a curiosidade ganha da dificuldade de compreensão e se atropela com a ignorância.
Visitando o site do Bordalier Institute (http://www.bordalierinstitute.com/) encontrei o quadro acima. Deixou-me atônita, imaginando que talvez sejamos recalcitrantes nessa coisa de explicar o complexo, fora do nosso alcance, e conviver com o inexplicavel. Exóticas mentes humanas se alimentam do contraditório. Fazemos guerras em nome da paz, condenamos e matamos em nome de um Deus, combatemos a nossa própria integridade das mais diversas formas...


Sempre tomei como natural que um bule fosse preenchido com líquido, no todo ou em parte, e que este vertesse com naturalidade. E é. Mas não é.
Talvez seja mais natural do que se imagina um gênio se desprender de uma ânfora, ancestral do bule. Trata-se de objeto mágico. Se a Física não explica nem como sai o líquido porque haveriamos de supor que um gênio não o habite?

12.1.09

Rosas, pães e pássaros



Estou saindo pouco, viajando muito. A poucos metros de casa tenho encontrado coisas que jamais vira. Encontrei uma roseira comunitária numa rua aqui perto. Muito bem cuidada. Alta, viçosa, bem apoiada, coberta de flores. Imagino que na maioria das cidades uma roseira de esquina, do lado de fora do muro, em plena calçada, não teria vida longa. Que as flores, caso vingassem, seriam prematuramente cortadas, ainda em botões e estariam sangrando, fenecendo, dentro de vasos, sobre mesas, dentro de casas.

Encontrei também uma artimanha fantástica, que só pode ser coisa de bruxa. Vários pães amarrados a umas duas ou três árvores da mesma região. Logo que vi não atinei. Arte de criança escondendo merenda? Fiquei olhando os pães amarrados com elásticos brancos, dos que se colocam em cós de saias e mangas bufantes. Coisa de mulher. Costureira, certamente. Preocupa-se em alimentar pássaros e protegê-los contra a fome e ratos. Talvez acredite que ratos não subam em árvores. Será que sobem? Mulheres não entendem de ratos, nem querem. Só querem saber de pássaros, pães e rosas.

6.1.09

Passos

Pressa, pressa,
passam depressa
passageiros
passos apressados
enquanto... Os meus?
Esses eu os faço lentamente.
Devagar.
Desviam de mim o passo e o olhar,
sem se deterem, sem esbarrarem
sem derrubarem seus personagens.
Seguem com pressa, todos.
Na mesma cadência apressada,
passam aprisionados
passos apertados
rumo conhecido,
obstinado, insano destino.

À minha volta só pressa.
Eu atravanco a passagem no meu vagar.
Repito ditos antigos e falo de ciclos,
de ritmo e estações
com a calma que irrita
e o sorriso que enfurece, talvez.
Todos se desviam de mim
com pressa inconciliavel.
Sinto o chão,
escuto o segredo
das raízes de todas as coisas,
que me dizem,
sussuram,
revelam:
Há pés dentro das fôrmas,
das tiras,
das formas,
dos bicos,
dos saltos,
dos canos...
apertados, torcidos, doloridos,
esquecidos de fazer marcas no chão.
Mas ainda assim há pés.