24.12.08

Quem é Baby?

Elas pareciam estar ali há bom tempo, colocando as novidades em dia. Falavam animadamente, riam. Não prestei atenção ao que diziam mas quando mudaram de tom, adotaram o inconfundível ar de fofoca e maledicência, eu, que sou só humana, me interessei. Estavamos muito próximas, mesas grudadas quase. Pareciam irmãs as três. Falavam sobre a Baby. João e Baby.


Procurei não dar bandeira mas, sem prejuízo da minha refeição, fiquei atenta a tudo que diziam, não nego. Foi isso mesmo. Um almoço lento, de no mínimo 50 mastigações por garfada, é preciso se fazer acompanhar de alguma distração. Não papo. Papo, não, que ninguém aguenta conversar esperando que o interlocutor acabe suas 50 mastigadas. De uns dias prá cá tenho almoçado sozinha para experimentar a disciplina aconselhada desde a Antiguidade. Ainda não vi resultado, mas se houver eu conto depois.
Colhi frases assim:
. É um biscuit! Mas que gênio!
. Ele tem orgulho de sair com ela, de exibi-la mesmo!... Como um troféu...
. Ela pode tudo! Poderosa!
. Ele trocou de carro por causa dela! E ainda disse que ela adorou! Vê se pode!
. Nem se importa de gastar uma fortuna com estética!Sempre cuidada, roupas e adereços caríssimos, unhas impecaveis! Jamais vi um único fio fora do lugar!
. Ele cismou com ela desde o primeiro desfile!... Enquanto ela não foi dele, ele não sossegou! Foi paixão à primeira vista!
. Ela não está errada de se aproveitar! O bobo é ele de embarcar em tanto capricho! Tinha que impor limites...
. Adoro o João, é o meu irmão querido, mas é duro ter que aguentar Baby!
. Eu não me conformo dele com aquela cachorra!

Pesou feio! Baixaram o nível e já estão enterrando definitivamente o respeito!, pensei.
De minha parte é inevitável: ouço uma coisa e a imagem vai se construindo.
Logo vi! Cunhada! Mulheres raramente aceitam as cunhadas... A Baby deve ser linda e loura, uma ex-miss, uma modelo, corpo escultural, profissão precocemente iniciada talvez a tenha tirado dos bancos escolares, uma show de mulher enquanto estas a meu lado, invejosas, não eram nada de espetacular, pessoas normais, nem feias nem bonitas, nem altas nem baixas, nem gordas nem magras, loucas para serem uma Baby na mão de um homem, que mulher muito fala em independência mas não é a maioria que se livrou da Cinderela cantando na torre...
Fiquei tentada a pedir sobremesa, mas resisti. Restaurante cheio, muito bate bandeja, falatório. A conta, por favor! As moças aproveitaram a proximidade do garçon e pediram a conta também.
A conversa sobre Baby continuava, mas eu já tinha perdido o interesse. Foi quando chegou João, escutei-as falando o nome dele. Viera buscar as irmãs. Apressava-as. Dizia que Baby ficara no carro e ele não queria demorar, que ela ficava nervosa...
Aí já é demais para uma curiosa e enxerida profissional. Baby estava no carro? Preciso ver Baby! Claro!
As moças se encaminharam ao caixa para apressar o pagamento. Fiz igual. Paguei a minha conta e muito naturalmente segui os quatro, João à frente, algo ansioso, pelo labirinto dos carros estacionados.

Até que, dentro de uma caminhonete alta, vidros suados...Lá estava a Baby! Invejosas ou não, as irmãs de João estavam quase inteiramente cobertas de razão! Não era uma cachorra. Era uma cadela e aguardava o dono com a ansiedade de uma poodle! Com os latidos insistentes, tão agudos e altissonantes quanto só uma poodle mimada consegue alcançar e um amante de poodle aguentar.
João achou de soltá-la para que se acalmasse. Eu fiquei de longe, como quem não quer nada, até que Baby parou de correr insanamente pelo jardim, tomou a água que João trouxera num cantil, cheirou a grama e fez xixi como qualquer canino normal.
Não resisti. Pedi licença ao João, que a concedeu de pronto, e tirei a foto abaixo.





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