17.12.08

Festa de Arrôto




De todas as Festas de Arrôto (com acento porque deste não abro mão) o Natal é a mais patética. A começar pelas árvores nevadas, os Papai Noéis gordos e magros, encasacados sob o devastador sol de verão, as renas que não temos e que, vira e mexe, chamamos de veados e toda a parafernália surreal. A mesa exótica é só um detalhe. Pena dos perus, porcos e chesters! Que venha o sal de frutas, redentor de quase todos os excessos! E o engov, é claro.

Eu queria conhecer uma única pessoa que, sem ser comerciante, goste de Natal. Agora, generalizando, comerciantes incluídos: que se sinta confortável durante as comemorações, que se sinta minimamente feliz. Pela via material: que fique satisfeito do monte de dinheiro que gasta com os acepipes importados e com os presentes que precisa comprar, das filas e engarrafamentos aos quais é submetido, sem falar nas porcarias que ganha e com as quais não tem idéia do que fazer. Quem tem família grande se esgarça para cumprir todos os papéis; quem tem família pequena se arrasta em depressão aguda. Aos que não tem família nenhuma resta apenas planejar a melhor forma de suicídio, precisando, contudo, adiar um pouco a realização do plano porque durante os feriados ninguém vai nem notar.

Para gostar de Natal é preciso ser criança que nada compra e tudo ganha (porque as que não ganham sofrem amargamente) e brincar de fingir que acredita em Papai Noel. Crianças são boas nisso. Praticam o fingimento descarado e nesta época vão além: consolidam a noção de que quanto maior a desfaçatez maior o lucro.

Impossível uma criança de inteligência apenas normal acreditar em Papai Noel. Se seu filho ou seu neto ainda fingem acreditar nele, cuidado! Você pode estar criando um futuro político, um marketeiro, um advogado, um vendedor de seguros, talvez até um médico! Toda atenção é pouca!

Tradição. Esta é a palavra chave que dizem justificar a encenação, para o benefício de poucos e sofrimento da maioria. Então me expliquem porque os antenadinhos de plantão, os anticonvencionais do ano inteiro embarcam nesse tsunami natalino! Até judeus trocam presentes agora!

Quero dizer a todos que neste Natal eu continuo impávida, radical e preguiçosa para sair do radicalismo! Não mando cartões, não os respondo, não troco presentes e desejo a todos o mesmo que desejo todos os dias da minha vida. E gosto de lembrar que o ano astrológico começa em Áries, que nada se resolve mesmo entre meados dezembro e meados de março e que a culpa não é do natal, do reveillon nem do carnaval em si.

Isto posto, Feliz Natal, se possível, a todos! E feliz hoje, amanhã e sempre.

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