7.2.09

Uma mulher de vida airada, de Jane Juska


Computador restaurado, pude ler o texto abaixo, o qual me foi enviado por e-mail sem citar a fonte. Sorry. Transcrevo-o tal como o recebi, com o prazer de divulgar mais uma página virada na história da libertação feminina. Nem sei se vou ler o livro. Certamente não o comprarei, pois para mim basta que Jane Juska tenha se rebelado. Saber que ela teve um desejo, realizou-o a despeito do forte embaraço que a moralidade do meio-oeste americano pode representar para uma mulher passada dos 60, e que depois disso ela ainda bota a boca no trombone para contar sua proeza, me é suficiente.

Eu, que não cheguei à marca dos 60, frequentei um colégio público em Ohio, Meio Oeste total, onde as meninas eram obrigadas a usar meia-calça e cintas o ano inteiro, fizesse frio ou calor. Não havia uniforme, claro, mas meia-calças e cintas não eram facultativas. Uma questão de decência.

Talvez passasse desapercebida a ausência de cinta numa ou noutra mocinha mais magrinha como tantas havia. Não sei quem a revistaria nem qual sanção seria aplicada a uma aluna que desafiasse a regra. Cuidei de seguir a ordem porque acredito no ditado: em Roma como os romanos. O Rio de Janeiro me aguardava.

Depois de lutar contra os quilos adquiridos em um ano de permanência em Ohio, comendo o que a princípio não atrai e posteriormente não sacia, voltei a usar os biquinis confeccionados a partir de míseras quantidades de pano, mini saias igualmente usurárias e largas pantalonas que Ohio veio a conhecer muitos anos depois e adotar com muitas reservas. Mais pano nos biquinis e saias, bem menos nas patas de elefante das pantalonas. Tudo muito comedido.

No Rio, faltar ao serviço religioso - não importa qual - de domingo não causava perplexidade à congregação, massa um tanto difusa mesmo num bairro pequeno como o Leme. A postura de estátua não era considerada normal, muito menos a ideal para demonstrar polidez. Não havia risco de duas pessoas conversando na esquina serem acusadas de complô que justificasse dispersão pela polícia nem se ouvia às 22h o apito de recolher para os jovens abaixo de 18 anos. No Rio a brancura da pele não era considerada um dado de beleza. É uma terra de sol, de liberdade de credo, de muitos sotaques, de miscigenação de hábitos e costumes, de riso fácil e gestual aberto. Uma cidade que abraça e inclui. Sempre achei que o Brasil sim é a terra da liberdade onde todo sonho é possível. Só nos falta um Obama a repetir "Sim, nós podemos." , mas se o preço a pagar por um Obama é um Bush vamos deixar isso para lá .

Eis a transcrição da matéria que originou a minha divagação!

"A professora aposentada Jane Juska tinha 66 anos e um jejum sexual que durava três décadas quando decidiu publicar um anúncio incomum num jornal de literatura de Nova York: "Antes de completar 67 anos – no próximo mês de março –, eu gostaria de fazer muito sexo com um homem de quem eu goste". Jane, então divorciada e já com um filho adulto, imaginou que no máximo dois ou três homens dariam retorno. Mas sua caixa postal recebeu 63 respostas. Ela escolheu alguns dos candidatos e marcou encontros para conhecê-los pessoalmente. Fez sexo com quatro deles (um de cada vez). O ato de coragem só não foi maior que, anos depois, contar suas aventuras no livro Uma Mulher de Vida Airada – Memórias de Amor e Sexo depois dos 60, que chega ao Brasil nesta semana. Jane afirma que antes de publicar o anúncio se perguntava se nunca mais teria um homem – e essa dúvida fez soar um alarme. "A maioria das pessoas de idade, em especial as mulheres, têm medo de correr riscos", diz. "Preferi agir a esperar que alguma coisa acontecesse". Antes de publicar o anúncio, ela havia tentado outras formas de despertar o interesse em potenciais parceiros. Freqüentou bares e festas, em vão. Quando percebeu que a idade não era sua aliada numa paquera, desistiu. Ela diz ter acreditado que era melhor o celibato que a humilhação. A ousadia de publicar o anúncio mudou sua vida.
Quando as respostas dos pretendentes começaram a chegar, Jane teve o luxo de poder escolher. Ela separou as cartas, como conta no livro, em montinhos de sim, não e talvez. Escolheu os mais originais e equilibrados – já que sua caixa postal recebeu até mensagens pornográficas e fotografias de nu frontal.
Em pouco tempo, ela deixou de lado a educação vitoriana do Meio-Oeste americano, a dor dos fracassos amorosos, os problemas de excesso de peso e da queda pela bebida para seguir até o aeroporto onde esperaria o primeiro candidato. "Foi o momento em que tive mais medo. Quase desmaiei quando vi que ele carregava uma caixa com objetos que faziam barulho. Pensei: 'São brinquedos sadomasoquistas!'. Depois, descobri que eram garrafas de vinho", diz.
Depois de Jonah, de 82 anos – o primeiro –, não parou mais com os encontros. Jane não mede palavras para relatá-los. Um dos candidatos, mal se apresentaram, pegou em seu traseiro. Outro pediu que ela apoiasse seus seios na mesa do restaurante – e os apalpou. Houve até quem tenha roubado sua calcinha. Ela também fala de masturbação e gosta de expor seu desejo pelo sexo masculino, fazendo referências ao corpo dos homens, em especial o traseiro. A maioria deles beirava ou passava dos 60 anos.
Mas houve Graham, de 32, segundo ela um sósia do galã David Duchovny, de Arquivo X, que depois se tornou um grande amigo. "Eu me diverti muito", afirma. No meio de tanta diversão, apaixonou-se. Robert, porém, tinha outro relacionamento – além de dores insuportáveis na coluna, o que tornava o sexo mais difícil.
Uma Mulher de Vida Airada não fala só dos encontros sexuais de Jane, mas de sua vida e escolhas. Do relacionamento com os pais à paixão pela literatura, do divórcio às aulas de redação para presidiários, Jane dá o pano de fundo para a maior aventura de sua vida, mostrando que a terceira idade não precisa ser um tempo apenas de renúncias e lembranças. Hoje, aos 75 anos e colhendo os frutos de seu livro, lançado no mundo inteiro, ela diz que continua em atividade. "Já não preciso mais de anúncios", afirma."

Um comentário:

  1. Fantástica suas observações sobre a cultura Americana do meio-oeste em comparação ao desembaraço e estilo de vida brasileiros. Adorei sua descrição “É uma terra de sol, de liberdade de credo, de muitos sotaques, de miscigenação de hábitos e costumes, e riso fácil e gestual aberto. Uma cidade que abraça e inclui. Sempre achei que o Brasil sim é a terra da liberdade onde todo sonho é possível.” Sim, ao contrário do que pensam nos EUA, que dizem da tal liberdade, ainda assisto incrêdula as regras sendo seguidas religiosamente, dias após dia. Ainda me rebelo muitas vezes, não sendo uma atitude muito apreciada, mas me contenho, enfim como você mesmo disse: “em Roma como os romanos.” No entanto, ainda espero ansiosamente pela vida sem regras, de braços abertos e sem preconceitos. Talvez essa vida esteja me aguardando no Brasil, talvez seja um lugar a se descobrir, talvez um estado de mente a se criar.

    Adoro sempre seus textos! Sheer inspiration! ;-)

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