28.2.09

Pacífico é só um nome



A imagem da tartaruga que cresceu entalada no anel de plástico é devastadora. Ilustra o lado sinistro do que entendemos por "progresso". Muito chocante, muito triste imaginar o sofrimento do animal que é um ícone da batalha entre a própria força da Vida e os obstáculos destrutivos que nos especializamos em criar e disseminar.

Esta tartaruga é uma vítima - entre milhões de outros seres - do lixão do Pacífico em especial e do Lixo em geral. Melhor dizendo: da quantidade de lixo que produzimos. Melhor ainda: uma vítima da Humanidade, que se tem como dona do planeta, quando é o apenas o seu pior locatário. Vou mais longe: diria que é vítima nossa, de todos nós que aceitamos e patrocinamos o plástico produzido, utilizado, descartado em grande escala e de qualquer jeito. Um passo além: a tartaruga é vítima de mim mesma. Só a culpa pessoal, intransferível explica o meu sentimento frente à imagem. É uma culpa generalizada, porque é de todos nós, porém a minha parcela de culpa é intransferível e sofro com ela.

Imagino que, pulando para um outro nível de reflexão, esta foto tenha paralelo sutil nas distorções que a Cultura produz em cada um de nós. A deformação física da tartaruga a mim parece comparavel às deformações que as imposições sociais nos causam. Talvez haja mais que uma tartaruga nessas condições; certamente há uma legião de pessoas deprimidas, apresentando síndrome do pânico, bipolaridade, tantas outras sequelas emocionais.

Bons pares para a tartaruga, agora recolhida e quiçá aos cuidados de veterinários, é o bem vestido, bem malhado, bem sucedido executivo com crachá ao peito, lap top na mala, celular, celulares talvez, iPhone com câmera, wi-fi e GPS... ou a mulher embonecada, plastificada, botocada, preenchida, cerzida, esticada e costurada, montada em altos saltos, cabideiro de grifes aberto em grandes decotes para ostentar seu mais novo silicone. Eles não vêem que o anel os está esmagando. Em relação à tartaruga este pensamento não me conforta porque ela está pouco se lixando para o que pensem dela. Não foi o que a prendeu, deformou. É mais sabida do que isso. Mais inocente. Mais indefesa.

Receberia com prazer informações sobre como descartar o lixo sem desobedecer as regras do condomínio, que são claras: tudo embalado em sacos plásticos bem amarrados.

De quebra, se alguém puder me ensinar como se pode salvar filhos da insânia da sociedade, para que não se sintam como a tartaruga...

3 comentários:

  1. Anônimo1.3.09

    Oi Beaz,

    Atendendo ao seu pedido estou comentando, sem nem mesmo ler o post. A imagem já diz tudo.

    bjs,

    Stela

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  2. Estou perplexa! Sem palavras!

    Bia

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  3. Nunca mais tirei esta imagem da cabeça!
    Beijoca, B

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