8.2.09

Amós Oz




Assisti, faz algum tempo, uma entrevista de Amós Oz a uma tv brasileira. Eu nem diria uma entrevista. Foi mais um recital em que ele apresentava suas próprias canções, letra e música já buriladas, tom e ritmo ajustados de tanto encontrar quem o queira ouvir e retransmitir.

Expôs idéias sobre o conflito árabe israelense com a autoridade de ser uma voz de Israel propagada para o resto do mundo através de reportagens, libelos, livros e do movimento Peace Now do qual é co-fundador. Não havia pergunta que o pegasse desprevinido. Para cada uma delas acionava uma canção do repertório. Mesmo assim tudo o que ele disse prendeu a minha atenção, talvez menos pelo conteúdo e mais porque eu quisesse ver até onde ele ia com o terço das orações mil vezes entoadas.

Houve, entretanto, um ponto em que a mágica se deu: ele me encantou e passou a fazer parte da minha vida ao soltar seu cântico sobre a disciplina que adota como escritor.

Disse ele que acorda às 5 da manhã, sai porta afora e caminha pelo deserto, que começa a 5 minutos da casa dele. Volta uns 50 minutos depois, alimenta-se e, nos versos dele, abre a loja. Contou que desenvolveu a mentalidade de um shop keeper, termo que só em inglês engloba o significado de alguém que trabalha, cuida e mantém um estabelecimento comercial. Não é só comerciante, lojista ou vendedor. É shop keeper mesmo.

Trata as idéias como clientes. Abre a loja: senta-se à escrivaninha, papel e várias canetas esferográficas descartaveis à mão, esperando a freguezia. Há dias em que o público acorre em massa, outros em que não entra ninguém, mas ele lá está sempre, preparado para receber as visitas e não deixá-las escapar. Se apontar um só cliente já se dá por satisfeito. Assim escreveu mais de uma dezena de livros, inúmeros artigos e manisfestos.

Gostei disso. A criação deste blog foi a minha versão pessoal como shop keeper. Não dou antes ao corpo o trabalho de uma caminhada nem o conforto de uma refeição. Aprendi a não selecionar clientes. Trato-os bem, trato-os mal e, sem o menor constrangimento, os arremesso neste balcão. Esse treinamento de censura zero me tornou capaz de escrever e expor outros textos. Meus clientes que me perdoem se por ora não posso lhes dar mais que atenção, mas garanto-lhes que estou me esforçando no ofício.

Não dá para escapar: a liberdade vem pela estrada da disciplina.

Vou agora tomar meu café. Um bom dia a todos!

Um comentário:

  1. Anônimo13.2.09

    Querida Beaz,

    Que bom que vc voltou a ativa. Esse aprendizado da disciplina é um daqueles remédios amargos que a gente reluta em tomar, mas sabe que só ele nos trará a cura.
    Sejamos menos rebeldes e mais produtivas.

    bjs,

    Stela

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