21.2.10

A Bruxa, Macunaíma e eu

Quero pedir desculpas por ter postado aqui, por engano, coisas do outro blog. Nada a ver. Sabidamente  bruxas tem maneiras muito sutis de chamar à atenção. Kitéss não fica de fora.

Faz tempo que não tecemos - nem histórias, nem comentários nem fios. Estão todos emaranhados onde a Bruxa é soberana. E tanto manda que me fez escorregar. Pura ciumeira que me obriga a uma retratação.

Através do outro blog eu venho acompanhando o movimento das datas comorativas, que são muitas, nos países onde o patchwork nunca deixou de ser moda e movimenta, e muito, indústria, comércio e serviços.

Valentines Day coincidiu com o nosso Carnaval. Era um tal de vermelho e rosa de dar enjôo. TUDO em forma de coração ou com coração pregado, bordado, recortado, glaçado - tudo é tudo.



Agora o tudo virou verde - e que verde! - por conta do Dia de São Patrício, 17 de Março.Trevos para todo lado. O número de folhas não importa, contanto que sejam trevos. A sorte não sabe contar.



Como essas datas não são marcantes na nossa cultura, a Bruxa fica doidinha para me trazer de volta. E traz.

Eu acompanho o que o povo lá de fora faz, e muito bem, aprendo as técnicas e uso-as em motivos e cores brasileiras até porque a Bruxa não me permitiria fazer diferente. E ela dá risada quando se alia a Macunaíma e ambos me levam a fazer menos, por menos, muito menos.

Pressionada pelos dois, abandonei o plano de costurar aplicações já recortadas e preguei-as num espelho feinho, antes dado como inútil aqui na Floresta Encantada. Coisa de poucos minutos. Trabalhão mesmo foi fazer foto de espelho..." Ai, que preguiça!..." dizia a vozinha interior...

Ao fim ficamos felizes os três - eu mais a Bruxa e o Macunaíma que moram em mim. 

Ôpa! A população vem crescendo! 

9.2.10

Todo mundo erra mas ...



... tem gente que abusa.

Digo isso sem arrogância. Sei que cometo erros, tanto falando quanto escrevendo. Uma escorregadela aqui, outra ali, são compreensíveis no Português, um idioma complexo, que a rigor não aconselha mas na prática admite e encoraja frases longas, nas quais muitas vezes perdemos a concordância gramatical e não raro a coerência do raciocínio. 

Idiomas latinos tendem ao barroco e isso complica tudo: pensamento, expressão e compreensão. Em Português é mais fácil complicar do que simplificar. Acontece de errarmos e isso vale para todos nós. Com algumas pessoas acontece mais, com petulante insistência. Essas eu não gosto de escutar. Por isso, tanto quanto o possível, tenho evitado as falas presidenciais dos últimos anos. 

Quando o assassinato ao idioma é muito violento, a Bruxa dentro de mim se revolta. Contraio músculos e reviro os olhos, tentando controla-la. Nem sempre consigo. Quem me conhece sabe quando a Bruxa está me socando as entranhas. Alguns amigos adoram o quanto ela me desfigura a face e retorce o corpo ao simples som de um barbarismo. 


A Bruxa e eu vamos enfrentar um tiroteio linguístico de grosso calibre durante 6 semanas, 4 horas por dia, 5 dias na semana, nos dias a seguir. Começou hoje e não estavamos prevenidas. Eu me virei e revirei, cruzei e descruzei pernas sempre tentando amenizar minha expressão facial. Até uma hora em que não deu mais. A professora disse, ou melhor, leu um texto impresso e várias vezes repassado. Ela pronunciou "pernitente". 


Pernitente?


Minha boca caiu, os olhos se arregalaram e fiquei esperando, ansiosa, uma indicação de que eu havia escutado mal. 


Mais adiante, a boca ainda no chão, os olhos estatelados, sobrancelhas encontrando a raiz dos cabelos, escutei de novo. Ela, a professora, repetiu, lendo outro trecho do mesmo texto: "pernitente".


Desde então fiquei matutando: 


A que mundo ela pernete?
A que mundo perneto eu?

A Bruxa se fez incontrolável. Este post tem como objetivo tentar acalmá-la. Preciso que a Bruxa compreenda: a turma à qual perneto, pernete, por sua vez, a essa professora, exímia em seu ofício. É importante que eu domine todas as técnicas pernitentes ao trabalho que quero desenvolver e esse curso pernete ao programa de aprendizagem que tracei para mim. 





Tenho medo que a Bruxa me expulse da aula. Preciso fazê-la entender que o Português pernete ao povo e que a voz do povo é a voz de Deus...


 Pronto! Agora mesmo é que a Bruxa se soltou de vez!



2.2.10

Quem é o consumidor final?


Sabe o que é uma frase ecoando na cabeça, que nem uma música ruim ou um jingle que não nos dá trégua?  Fiquei a tarde toda pensando na frase, ou melhor, a partir dela. 

Caí na gargalhada logo que a li. Ao riso frouxo que soou descabido numa loja de 1,99, seguiu uma corrente de pensamentos que me agrilhoa desde as 9 horas da manhã. Que desconforto!  

Tudo por causa de uma frase impressa na caixinha de um utensílio básico de cozinha. Nem ao menos uma inovação. Um descascador de legumes! 


Esta é a cara da caixa...





e esta a frase que carrega na lateral.



Deduzi imediatamente que só um homem pode tê-la escrito. A isso dava-se, em tempos idos, o nome de conclusão açodada. E o termo se justifica porque a frase me levou a um tempo que eu julgara extinto. Pode uma mulher tê-la produzido, ou reproduzido, robóticamente. Não sei e desisto de tentar imaginar autor/autora porque não consigo situar a época em que transita a mente de quem a escreveu, ou o local. Talvez na Antiguidade, ou no Oriente... Não sei e desisto. Não tenho conhecimento para tanto. 

Ficou aqui o registro da pérola, riscada, por razões óbvias, o nome da marca que a endossa. 

Antes de você cogitar que eu possa talvez ser uma feminista radical, devo dizer que sou mesmo. Não tenha dúvidas sobre isso. Mas este não é o assunto deste post. Ou será que é? 
Acho que não. 


O assunto é: o fabricante precisa conhecer o consumidor final do seu produto. O (ou A)  cara aí não tem a menor idéia da abrangência de seu público. Fabrica descascadores de legumes para serem usados por mulheres.  Meigo isso. Carinhoso.