17.1.10

Realizando os propósitos

De esperança em esperança vamos fazendo nosso caminho, com toda a ajuda que possamos conseguir. Há várias formas de orar e deuses para todos os gostos e necessidades. Bruxas acolhem todos os deuses e aceitam todas as formas de oração (quase). Apegam-se mais a uns do que a outros, conforme o temperamento, sabedoras de que a diversidade é condição essencial da nossa experiência e no fim dá tudo no mesmo.

Vou lhes contar sobre a oração que dei de presente a uns amigos que chegaram de repente na minha cabana na Floresta Encantada....



...para ver a minha nova máquina de costura. Justamente quando eu desembrulhava as últimas aquisições de tecidos.

Poupei os tecidos comprados e lancei mão de um suposto pano de prato, ganho de brinde numa das lojas, para  demonstrar o funcionamento encantador da máquina de costura. Digo" suposto" porque o pano, de qualidade mais que suspeita, não manteria as cores nem suportaria o batente nos 365 dias que o fazem - por humilhante provocação - exibir. Não suportaria inteiro nem a primeira lavagem. Tive pena do uso do algodão e dos pigmentos para um resultado tão sofrível.

Bruxa que se respeita, recicla. Arruma e rearruma o mundo, dá vida nova. Propus que fizessemos, então, uma moldura para colocar o calendário pendurado na cozinha deles.

Gostaram da idéia. Usamos panos escolhidos sem cuidado. Costuramos, pespontamos, inventamos e nos admiramos. Quando virou trabalho o deixamos de lado. Reuniões de Bruxaria são comandadas pela Conversa e pelo Prazer de desfrutar a Companhia de nossos Pares. Trabalho tem hora.

No dia seguinte tive o maior prazer em terminar de costurar o calendário, para fazer-lhes uma surpresa. Montei um painel com ilustrações e símbolos do que eles desejam para 2007. Exibida que sou, mostrei isso na minha outra casa, onde expliquei a razão pela qual escolhi cada colagem ou penduricalho.

Aqui, onde posso ser bruxosa que ninguém estranha, venho lembrar a todos da oportunidade de fazer algo semelhante. Não necessariamente em tecido nem sobre um calendário. Um painel que reúna várias técnicas - colagem de recortes, desenhos ou pinturas, conforme a criatividade de cada um.

Use ilustrações ou a representação simbólica, contando que cada elemento do seu painel tenha um significado muito claro para você. Um painel mágico. Um painel que fale a linguagem dos deuses.

Deixe-o sempre à vista. Por favor não o enfie numa gaveta nem na prateleira mais alta da estante!!! É para que você o veja, atualize, medite sobre ele ou apenas passe por ele sem nem ao menos notar. É um tipo de oração que todos os deuses entendem, acolhem e que fica lá rezando por você, mesmo quando você está fazendo o que precisa para sobreviver.

Que tal experimentar? Dê uma chance a esta forma de oração!

14.1.10

Doutora Zilda Arns Neumann e o Haiti visto de cima

O avesso do bordado costuma ser feio, caótico e revelar vagamente o risco e efeitos obtidos do lado direito. Vira e mexe comparam a visão do avesso ao nosso limitado alcance visual, de baixo para cima. O lado direito, o superior, só nos seria revelado ao fim da obra, ou ao fim da nossa obra em vida.

Que Haiti estará vendo a Doutora Zilda  neste momento?

Doutora Zilda Arns Neumann, figura emblemática da luta contra a miséria e a favor da vida humana, foi tragada pela desgraça que paira, renitente, sobre aquele país. Talvez tão desolada pelo que via, tenha a ela sido dado o presente de ver o direito daquele bordado. Para acalmar seu coração missionário. Para amenizar a dor que lhe causava tamanha miséria e abandono da população.

Como a atriz que falece em cena e chama a atenção de todos à nobilíssima paixão pela Arte, pelo Teatro, Doutora Zilda Arns Neumann sucumbe em meio a uma catástrofe num território sobre o qual se diz sobreviver, mal e mal, a população mais necessitada, oprimida e miserável da Terra. Doutora Zilda teve uma vida voltada para a construção de um mundo melhor e uma morte que clama pela continuação do seu trabalho. Com mais afinco ainda, como tributo à sua memória - responsabilidade de todos nós.

Espero que a Doutora Zilda e todos aqueles vitimados pelo terremoto tenham ao menos o conforto de ver que o direito do bordado existe de fato. E se direito existe, um dia todos nós o veremos. E a identificaremos como um ponto de luz refulgente. Uma pedra preciosa, correspondente à vida da missionária, estará lá, colhendo os olhares para o que, aqui abaixo, chamamos de Haiti e vem ceifando muitas vidas, cada uma preciosa a seu modo.



Crédito do bordado: http://quiltista.blogspot.com/
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4.1.10

Retalhando com força




Minha vassourinha adotou o teclado e tem me levado a viajar com prazer nos blogs e sites de profissionais do retalho/quilt/patchwork. 


Obras feiticeiras, encantadas, encantadoras.


Não posso ficar de fora. Quero conversar com todos, aprender, ver arte textil praticada no mundo inteiro - inteiro, sim. E com todos, sim, não "todas"! Não há apenas mulheres armadas com linha e agulha. Gosto da idéia de homens adotarem o quilting como profissão. Há alfaiates, tecelões, tapeceiros, homens que atingiram a fama dedicando-se à alta costura, e há os quilters também, e há muitos. Foi surpresa para mim, mostrada pela minha vassourinha virtual, mas  não que seja uma novidade em países onde o quilting é uma tradição forte.
Eu, precisei criar um canal de conversação, de troca, e me inserir no que representa uma comunidade imensa voltada para o uso de tecido, aplicação de cores e texturas e confecção de peças carregadas de feitiço. E convenções? Há muitas! Muitas... Minha vassourinha fica toda agitada...





As 24 horas do dia se tornaram insuficientes para tudo o que quero ver e fazer com o olhar brasileiro. As peças mais instigantes são aquelas que trazem a marca da personalidade do artesão e da cultura onde se inserem. Este é o meu ponto de reflexão. Amo os quilts irlandeses, mexicanos, australianos, neozelandeses, dinamarqueses, ingleses, jamaicanos, norteamericanos, canadenses, japoneses... contanto que eu possa identificar neles a procedência, instantaneamente, ao primeiro olhar. Se não trazem a marca de uma cultura, se não são uma construção sobre bases culturais, não passam de arremedos, de panos emendados.




A marca não está apenas nos motivos, mas na aplicação de cores. Quero refletir sobre isso e venho encontrando interlocutores que, até agora, apoiaram as idéias que apresentei - nem creio que sejam novas - que precisam ser reforçadas, trazidas à discussão, para que a globalização não signifique homogeinização.




O fogo está aceso, o caldeirão fervendo. Próximas poções serão materializadas em quilts. Aguarde ou vá me visitar na minha outra casa, um pouquinho menos retirada, para onde precisei levar a Floresta Encantada!!!